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sábado, julho 31, 2010

ACTUALIDADES MUNDIAIS…

 

Fonte:

 

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Análise Global

Boletim apresentando objetivamente as principais notícias do mundo. Inclui artigos de Isaac Bigio publicados em vários diários.

Ano 15. Londres, 30-07-2010

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Peruanos, colombianos,

bolivianos e equatorianos

Por Isaac Bigio*

De Londres

Para Via Fanzine

Tradução: Pepe Chaves

Francisco de Miranda

De 20 de julho a 10 de agosto as quatro repúblicas da Comunidade Andina de Nações celebram seus dias de independência. Nesta ocasião, vale frisar, todos os andinos, sem importar em qual lugar tenhamos nascido, são simultaneamente peruanos, colombianos, bolivianos e equatorianos.

Quito, em 10 de agosto de 1809 - depois Chuquisaca (hoje Sucre) e La Paz - foi uma das primeiras cidades hispânico-americanas a declarar sua própria junta governamental autônoma.

Em 20 de julho de 1810, Bogotá seguiu esta tendência e logo após, se inicia um processo que culmina no dia 7 de agosto de 1819, quando as tropas do venezuelano Simón Bolívar libertaram finalmente àquela capital. Na primeira comemoração de 2010, a Colômbia celebrou seu bicentenário de emancipação e na segunda, assumirá o poder no país, seu novo presidente eleito, Juan Manuel Santos.

Em 28 de julho de 1821 o general argentino José de San Martín proclama a independência peruana em Lima. A emancipação, no entanto, só seria consumada quando milhares de patriotas provenientes de todo o continente derrotam os realistas, em 9 de dezembro de 1824, na batalha de Ayacucho. O Alto Peru, depois de ter sido a faísca que em 1809 desencadeou a rebelião emancipadora, se converte, em 6 de Agosto de 1825, no último país latino sulamericano constituído como república (a de Bolívar): Bolívia.

Apesar de estes quatro países possuírem hoje nomes diferentes, podemos dizer que em algum momento essas mesmas denominações uniram todos eles.

Desde meados do século XV, até o século XVII, quase toda a América do Sul e parte da América Central formavam parte do vireinado do Peru, o mesmo que chegou a ter a maior administração colonial europeia da história. Ao leste ocorreu dois grandes desmembramentos: quando Bogotá se converteu na sede do novo vireinado de Nova Granada (entre 1717 e 1739) e quando Buenos Aires se tornou na capital do novo vireinado do Rio da Prata (1776-77), quando esta, e não Lima, passou a reger o Alto Peru.

“Colômbia” foi a palavra criada por Francisco de Miranda para unir o continente de Colombo (especialmente os territórios luso-hispânicos que iam desde a Califórnia até a Patagônia). No entanto, o que era para ser a República da Colômbia se reduziu apenas ao primeiro, que foi um dos quatro vireinados espanhóis (o de Nova Granada) e depois cada uma das quatro repúblicas também se retiraram.

A Colômbia foi originalmente o nome com o qual se buscava expressar os países de fala hispânica e portuguesa nas Américas, o que mais tarde seria conhecido como Ibero-América. Enquanto a Colômbia atual “diminuiria” até se tornar uma das tantas repúblicas do continente de Colombo, o termo Ibero-América se expandiria até se integrar à península ibérica. E está em vias de agrupar todos os países da Ásia e da África, cuja língua, história e cultura, se forjaram em torno da interação entre a Península Ibérica e as Américas.

Bolívar foi o libertador de todas as repúblicas que hoje compõem a Comunidade Andina de Nações, além das do Panamá, Venezuela e partes de Guiana, Chile e Brasil. Por isso é que até agora a todos esses países se designam “bolivarianos”.

O Equador é a linha geográfica que divide o globo ao meio e que passa pelo território de Colômbia, Peru e Equador, e não distante, da de Bolívia. A primeira república a usar a palavra “Equador” não foi aquela criada em 1830 na cidade de Quito, mas a fundada brevemente na orla oposta sulamericana (capitaneada por Recife, em 1824), atualmente a única república hispânica do velho mundo também a usa, Guiné Equatorial.

Todos os que levamos a cidadania ou o passaporte da Comunidade Andina de Nações fomos parte do antigo Peru e do projeto da grande Colômbia de Miranda, e somos parte dos países bolivarianos que ficam geograficamente em torno do Equador.

*  *  *

Reflexões sobre o bicentenário colombiano

Por Isaac Bigio*

De Londres

Para Via Fanzine

Tradução: Pepe Chaves

Archivo:Gran Colombia 1824 showing disputed territory by Peru.PNG

Mapa original da Grande Colômbia (a parte em laranja foi disputada com o novo estado peruano pós1821).

Desde meados de 2009 a América espanhola vem celebrando vários bicentenários. O dia 20 de julho é a data oficial em que a Colômbia comemora seus 200 anos.

Este fato de por si nos traz várias reflexões:

1) A luta inicial pela separação de Espanha não se deu inicialmente através de líderes e ideologias republicanas e independentistas. Mais sim, foi a própria coroa espanhola que depois da invasão de Napoleão Bonaparte ao seu reino, clamou pela criação de resistências por todos os lados. Este exemplo foi seguido por várias cidades americanas, que, declararam sua fidelidade ao monarca deposto (Fernando VII), mas mantendo-se autônomas ante as juntas de resistência de Andaluzia.

2) Não existiu uma luta total entre europeus contra os americanos. Bem como a conquista espanhola se deu, graças à aliança entre peninsulares e numerosas nações ameríndias, quando as guerras pós-1808 dividiram os americanos (e também europeus), pois muitos espanhóis apoiaram às colônias. Com isso, vários povos com mais influências indígenas se aliaram com Madri contra os separatistas. A luta pela autonomia surgiu de um movimento independentista que dividiu os próprios americanos. No caso colombiano, inicialmente, criou uma guerra civil entre federalistas e centralistas que foi aproveitada pela coroa para reconquistar o país (1815-19).

3) Nesse então, todos os povos desde a Patagônia até a atual Califórnia, com exceção do Brasil (sede mundial do império português) e de alguns territórios do Caribe, se diziam “espanhóis americanos”. As novas juntas americanas originaram uma nova constituição - a de Cádiz  (1812) - no império 'panhispânico', que aceitava a igualdade entre espanhóis americanos e europeus.

4) O termo América Latina não existia. Este se imporia meio século depois como justificativo do império francês para se anexar México e aos países que falavam uma língua latina. Este conceito hoje é inadequado, pois não inclui o Canadá (onde se concentra mais de 90% da população americana que fala o francês como língua materna), separa aos países sul e centro americanos entre aqueles que falam um idioma romance. E os que falam inglês ou holandês chegam aos 50 milhões de hispanos nos Estados Unidos da “América Latina”, criando uma suposta identidade latina: a dos povos com origem ibérica, ameríndia ou africana, nenhum dos quais fala o latim, nem provém do berço latino (centro da Itália).

5) Trinidad e Tobago e dois terços da Guiana fizeram parte da Nova Granada. A primeira passou às mãos britânicas no início das guerras napoleônicas e a segunda em conflito com a nova república venezuelana (a mesma que em sua bandeira oficial a reclama como sua oitava estrela). Trinitários e guianeses são hoje os únicos povos americanos, cuja etnia principal provém do subcontinente da Índia. Também por seus laços com a Grande Colômbia, outros países não os consideram parte da América Latina, bem como o Carnaval maior do velho mundo (o de Notting Hill em Londres, o qual se baseia no de Trinidad) não é visto como sulamericano, mas como afro-caribenho.

6) A palavra Colômbia foi criada por Francisco de Miranda (em seu exílio em Londres ou em sua viagem de barco para libertar a Venezuela) para se referir a todo o continente de Colombo. Em 1819 foi designado o vireinado de Nova Granada que se incluía aos atuais, Equador, Colômbia, Venezuela e Panamá, à maior parte da Guiana e outras partes dos atuais Brasil, Peru e Costa Rica.

7) Em 1830 a “Grande Colômbia” se dividiu em três repúblicas que até hoje são as únicas do mundo a compartilhar uma mesma bandeira: Equador, Venezuela e Nova Granada. Esta última depois mudou seu nome duas vezes até que, em 1886, seria criada a atual República da Colômbia, surgida depois da vitória militar conservadora sobre os federalistas.

8) Em 1903, a Colômbia sofreu sua última rescisão quando os EUA promoveram a separação do Panamá para criar uma república que lhe permitisse manter o canal (marítimo) sobre o seu controle.

9) A Colômbia, que foi originalmente a palavra que criaram os libertadores para batizar a todo o continente, se reduziu ao que seria um dos quatro vireinados continentais espanhóis americanos e depois, nos quatro componentes da inicial “Grande Colômbia”. Assim, com o termo “americano” se passou ao oposto. Ou seja, de ser o gentílico do grande continente para designar só um Estado (os EUA) que compõe menos da quarta parte do território total da América.

10) Hoje, todos falam de Colômbia se referindo somente àquela república que Colombo nunca conheceu e que na América compõe somente um dos muitos países, qual está subdividido esse hemisfério. Hoje todos os hispano-americanos são partes do ideal unificador de Bolivar e Miranda que, ao se criar a grande Colômbia, são sim, todos americanos, são sul e centro americanos (quando querem diferenciar-se EUA, ao norte) e são ibero-americanos (quando se enlaçam com todos os países de fala espanhola e portuguesa).

- Imagem: Arquivo:Grande Colômbia 1824 showing disputed territory by Peru.PNG

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Choque britânico

Por Isaac Bigio*

De Londres

Para Via Fanzine

Tradução: Pepe Chaves

Na terça-feira (22/06) o novo governo conservador-liberal britânico anunciou o maior ajuste econômico em uma geração. O choque busca reestruturar o modelo social, no qual, o Estado se retira cada vez mais da economia, enquanto o eixo do crescimento se alicerça no setor privado e em suas exportações.

Para o governo, de todo o grupo das 20 potências, o Reino Unido é a que tem o maior déficit. Enquanto a anterior administração trabalhista falava em corte de £73 milhões (US$ 110 milhões), a coalizão Cameron-Clegg pede um corte 50% maior (de £113 mil milhões ou US$ 170 milhões).

O novo secretário da economia George Osborne propõe “sanear” a economia buscando £3,5 milhões (US$ 5 milhões) através do congelamento de salários públicos, além do corte de £5.5 milhões (US$ 8 milhões) em benefícios aos doentes, desempregados e crianças, gerando £13 milhões extras com reajuste de impostos ao consumo, subindo de 17.5% para 20%, acumulando uma grande soma e eliminando 25% das despesas de todos os ministérios (com exceção de Saúde e Cooperação Internacional).

Antes das eleições de 06/05, os conservadores prometeram que não subiriam o imposto sobre as vendas e os liberais desejavam a manobra. Hoje, estes dois partidos têm lembrado que até janeiro elevarão este imposto a 20%, o que implica em um curto lapso de tempo, no qual o contribuinte vai experimentar o imposto com acréscimo de um terço (com Brown, subiu de 15% para 17.5% e com Cameron, de 17.5% a 20%).

O governo sustenta que se trata de um ajuste duro, mas igualitário, pois afetará a todos. Aceitando o postulado liberal de proteger os mais necessitados, não impõe impostos aos que recebem menos de £10,000 (US$ 15,000) anuais. No entanto, sindicatos sustentam que este reajuste promove uma “guerra de classes”, pois serão os pobres que devem sofrer mais com o imposto ao consumo, vez que, o congelamento de salários e benefícios infantis, deve gerar uma onda de demissões em massa no setor público. Por isso, os atuais e os futuros desempregados terão menos benefícios.

As previsões sustentam que a economia só crescerá 1.2% em 2010 e 2.3% em 2011 (o que implica numa taxa muito inferior à da África) e que a taxa de desemprego será de 8%. A oposição alerta que estas medidas paralisam a recuperação econômica, aumentam o desemprego em números muito superiores aos indicados e geram o risco de o país ter uma inflação de dois dígitos.

Os mercados, ao contrário, têm reagido positivamente, acreditando que tais medidas devem estabilizar a economia. O setor privado é, precisamente, quem fará o teste para ver se o novo modelo vai funcionar e, por isso, tem recebido incentivos, como isenções tributárias. Terá que experimentar, na prática, o que ocorrerá ao Reino Unido e se esta nação conseguirá se transpor rapidamente para um modelo do tipo China ou Alemanha, baseado nas exportações privadas.

Um fantasma que ameaça ao Reino Unido é uma nova onda de protestos sociais e sindicais, enquanto os trabalhistas querem aproveitar o choque para se potenciar a partir da oposição, rompendo com liberais e seus aliados conservadores.

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Autocrítica trabalhista ao Iraque

Por Isaac Bigio*

De Londres

Para Via Fanzine

Tradução: Pepe Chaves

David Milliband

David Milliband foi o último secretário de relações externas do saliente governo de Brown. Hoje é o favorito para vencer as internas dos trabalhistas e se converter em seu novo dirigente. Suas declarações, portanto, podem ter muita importância.

Ele acaba de dizer que se em 2003 tivesse tido a mesma informação que hoje tem, de que o Iraque não possuía armas de destruição em massa, a guerra não teria ocorrido. Isso implica num giro radical para o trabalhismo, pois Blair se justifica, dizendo que a invasão sempre seria válida como a melhor via para se desfazer de Saddam.

Com suas novas declarações, David Milliband busca dissipar a imagem de subordinado a Blair, enquanto pretende por fim à virada de seu principal rival na eleição pela liderança de seu partido que é, paradoxalmente, seu próprio irmão Ed, que se ateve mais unido à ala de Brown.

David quer se alinhar à grande parte da militância e do eleitorado trabalhista que pensa que o maior erro do governo anterior foi a ocupação do Iraque.

Com essa nova guinada no leme, ele também busca investir no jogo do liberalismo.

Faz dois meses, os liberais se apresentavam como o partido que questionava os trabalhistas a partir da esquerda e de uma ótica crítica às guerras. Agora, David quer reverter isso e pretende minar pela esquerda o liberalismo, que acusa de sacrificar seus princípios para desfrutar de cargos no primeiro governo em que figuram como sócios minoritários desde a Segunda Guerra Mundial.

Se o trabalhismo adota uma forma de autocrítica (ainda que parcial) sobre a guerra do Iraque, isso terá um impacto fora de suas fronteiras.

Essa guerra, que hoje é a principal a se configurar na política mundial, se deu com base na aliança entre a direita republicana dos EUA (Bush) e a centro-esquerda social-democrata britânica (Blair).

O Partido Trabalhista não somente enviou o segundo maior destacamento militar, mas deu ampla cobertura à invasão, pois atraiu ou neutralizou muitos europeus e “socialistas”.

Esta foi a quarta guerra promovida por Blair (recorde na história do trabalhismo no poder) e foi parte da estratégia que alguns descreviam, como a de ser um “cão de guarda” de Washington , buscando assim, a melhor maneira de utilizar a sua ex-colônia na tentativa de reconstruir o poder em suas antigas dependências ou zonas de influência.

Com seu novo posicionamento, o trabalhismo poderia querer se reinventar como um partido supostamente pró-paz na Palestina, Iraque, Afeganistão e Irã.

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Aquecendo uma nova guerra fria?

Por Isaac Bigio*

De Londres

Para Via Fanzine

Tradução: Pepe Chaves

Vicky Peláez

Após Medvevev visitar os EUA e manter boa relação com Obama, no domingo (27/06), o FBI capturou uma dezena de cidadãos acusados de serem espiões russos. A guerra fria, que havia se congelado após o desmoronamento do bloco soviético, parece querer sair da geladeira.

A Rússia de 2010 é muito diferente daquela de 20 anos, quando o Kremlin dominava uma coalizão mundial de economias planificadas estatizadas e regidas por partidos comunistas únicos. Em 1991, a União Soviética se desintegrou em 15 repúblicas que promoviam o capitalismo (cuja maior parte é formada por democracias pró-EUA). Três delas (as do Báltico), igualmente aos seis antigos componentes do leste europeu do Pacto de Varsovia, passaram a integrar à OTAN e à União Européia.

O Partido Comunista na Rússia se encontra quase duas décadas na oposição, onde se reciclou como nacionalista pró-democracia multipartidária do mercado.

Washington deixou de se referir a Moscou e ao comunismo como seu inimigo principal e passou a considerar que sua estratégia global passava pelo enfrentamento ao terrorismo islâmico e os estados paralelos. A nova Rússia foi se fazendo um aliado inicial na luta contra a Al Qaeda e os talibãs.

No entanto, novas tensões foram surgindo, à medida que Rússia tem saído de sua derrocada econômica e os EUA vêm perdendo autoridade mundial. Medvevev que deseja deter a instalação de novos mísseis na Europa oriental, trava sanções drásticas que Washington impõe ao Conselho de Segurança da ONU, contra o Irã, além de executar manobras militares navais com a Venezuela e invadir a Georgia.

Com a ascensão de Obama à Casa Branca, os EUA têm buscado se desligar da antiga gerência de Bush e tendido a estabelecer pontes com a Rússia, China, Europa e América Latina. Não obstante, essas aproximações não serão sempre lineares, pois poderá haver choques.

A captura dos espiões russos nos EUA é uma mostra disso e dá continuidade a um recente choque entre Londres e Moscou, que culminou na morte de um desertor russo. Segundo versões russas, o ocorrido mostra a mão forte da ala conservadora norte-americana, que mantém fortes laços com o FBI e busca evitar aproximações entre Obama e Medvevev.

Vicky Peláez

Entre os detidos como espiões da Rússia nos EUA está Vicky Peláez, uma conhecida jornalista nascida em 1955, na cidade de Cuzco (Peru) e seu esposo Juan Lázaro, catedrático uruguaio-peruano.

Peláez trabalhou como repórter da TV Freqüência Latina em Lima e foi viver em Nova York após sofrer um breve sequestro pelo MRTA. Na cidade sede da ONU, ela se converteu em uma das escritoras mais conhecidas do maior diário hispano local, ‘A Imprensa’. Suas colunas semanais mantinham muitas críticas ao sistema. Apesar de suas divergências, este veículo de comunicação a mantinha em seu elenco devido à grande popularidade de seus artigos em determinadas abordagens.

Podiam não concordar com seu radicalismo de esquerda, mas reconheciam muitos dos seus méritos. Em 1995, ela recebeu a condecoração da Associação da Imprensa Hispana dos EUA (influente sociedade de imprensa em castelhano) pela abordagem de um de seus editoriais.

O FBI sustenta que o segmento tinha durado duas décadas e que os suspeitos teriam recebido dinheiro de Moscou, o que poderia custar até 20 anos de cárcere. Peláez diz que os serviços de inteligência interceptaram suas conversas privadas, destroçaram sua casa, onde implantaram microfones e que confiscaram todos seus pertences.

A acusação de que Peláez seria uma agente secreta russa não é fácil de digerir. Ela é uma figura pública, alinhada abertamente com o socialismo cubano, venezuelano e boliviano. Isto, por si, a faz incompatível com o atual governo russo, o mesmo que, desde 1991, faz o possível por desbaratar o velho modelo “leninista” e por reintroduzir o mercado, tendo como o seu principal adversário, o partido comunista russo.

Fontes russas negam a espionagem e alegam que tais capturas obedecem a uma ala conservadora forte no FBI que deseja minar os crescentes laços entre Obama e Medvevev.

Judith Torrea, prêmio Ortega e Gasset de jornalismo, escreveu no ‘El País’, da Espanha, que essas acusações lhes parecem inverossímeis e que a acusada não tem dinheiro para pagar advogados.

O ocorrido é algo que também deveria preocupar às oposições anti-ALVA, pois deverá ser utilizado por Chávez e Castro para demonstrar que a prática pró-democracia dos EUA é inconsistente, pois ela não é aplicada no próprio país.

À margem de as acusações serem ou não verdadeiras, o dever da SIP e de toda entidade jornalística, seria o de garantir que Peláez tenha acesso a uma boa defesa e que sua detenção não seja parte de uma “caça de bruxas”.

Nick Clegg: primeiro vice-premier hispano do Reino Unido

Por Isaac Bigio*

De Londres

Para Via Fanzine

Tradução: Pepe Chaves

Miriam e Clegg

Nick Clegg converteu-se no novo vice-premiê do Reino Unido. Ele se torna a primeira pessoa que ocupa tal cargo com apenas 44 anos. Militante do partido liberal, fala perfeitamente o castelhano e tem fortes vínculos com as comunidades hispana e iberoamericana.

Ele se casou na Espanha com a espanhola Miriam González Durántez, que se nega a adotar o apelido ou a nacionalidade britânica de seu marido. O casal tem três filhos espanhóis, Antonio, Alberto e Miguel. Durante a campanha eleitoral seus garotos estiveram na casa da avó, na Espanha, país ao qual ele visita regularmente, pelo menos uma vez a cada ano.

Três dias antes das eleições de 06 de maio me encontrei com sua esposa Miriam e perguntei como se sentiria se fosse a única primeira dama espanhola da história do Reino Unido. Ela se esquivou à pergunta, porque acreditava que isso não seria possível, já que os liberais não tinham nenhuma chance de vencer as eleições com a maioria absoluta. Entretanto, Miriam não conseguiu realmente se tornar a primeira espanhola, mas se converteu na primeira vice-primeira dama espanhola do país.

Expectativas

A imprensa espanhola espera que com a designação de Clegg possa haver progressos na resolução do crítico tema de Gibraltar, o ponto estratégico que se situa ao extremo sul da Espanha e que Madri deseja que Londres o retome.

O casal Nick-Miriam também levanta certas inquietudes em toda iberoamérica. Os conservadores prometeram em seu manifesto eleitoral que eles colocariam a América Latina como uma de suas três novas prioridades na política exterior. Charles Tannock, o europarlamentar tory mais votado em Londres e fluente em espanhol e português, sustentou em uma assembléia com os latinos de Londres que reabririam embaixadas ou instituições que o trabalhismo fechou em dita região.

Em especial interesse, Nick e Miriam geram dentro da comunidade de fala hispana e portuguesa no Reino Unido. Os Clegg não são os primeiros hispanos a chegarem ao poder em Reino Unido, mas sim, a subir a Downing Street quando, pela primeira vez na história, o número de iberoamericanos neste país já supera um milhão de pessoas.

Conforme provou fidedignamente o professor Pablo Mateos da University College of London no 2001-2006, havia um quarto de milhão de pessoas com todos os pontos e vírgulas completos hispano-portugueses. Este número implica em mais eleitores que todos os votos registrados em 2005 na terceira cidade mais povoada do país. Ademais, deve ampliar e agregar os novos inscritos ou de que, pese a ser ibero-falantes, têm nomes ou apelidos ingleses ou de outra origem.

A comunidade iberoamericana tem adquirido especial papel nos últimos anos no país. Esta tem sido capaz de promover foros eleitorais em massa, atraindo candidatos a prefeito ou ao governo, bem como assembleias com as autoridades de Londres. Também conformou o maior contingente na maior marcha pró-imigrante da história britânica (em 04 de maio de 2009). Hoje todos os grandes festivais do sul de Londres são em castelhano ou português.

Miriam não é uma pessoa alheia à comunidade iberoamericana. Ela, muito bem, tem desempenhado um papel ativo. É uma das diretoras da Canning House, a principal casa cultural iberoamericana do país.

Uma vice-primeira dama hispana frente à situação dos hispanos

Miriam González é também a primeira vice-primeira dama que não pôde votar em seu esposo. Ela, igualmente aos espanhóis e portugueses, pode votar nas eleições locais ou europeias, mas não nas gerais. Ao contrário, os nacionais da Irlanda, igualmente aos  53 países da Commonwealth, ainda que não sejam residentes permanentes, podem votar nas eleições gerais.

Esta diferença no poder do voto explica como as minorias indígenas, paquistanesa, bangladechiana, serraleonesa, nigeriana, ganesa, entre outras nacionalidades da Commonwealth, possam ampliar sua presença no parlamento e nas esferas do poder. Nestas eleições o número de parlamentares que provém dessas minorias se duplicou (de 14 a 27). Aocontrário, de um a dois milhões de pessoas que residem no Reino Unido e que têm raízes nos países de fala oficial hispana e portuguesa, não tem um membro no Parlamento e também não conseguiram colocar um único vereador em Londres.

A nomeação de Nick e Miriam se dá ao mesmo tempo em que um “conselho de sábios” da União Europeia recomendou o direito ao voto a todos os residentes europeus nas eleições gerais da cada país, com o intuito de incentivar os laços e a interrelação.

De todos os três grandes partidos, os liberais é o partido mais aberto à reforma eleitoral e à União Europeia. Isso poderia fazer com que eles viessem a pressionar pela concessão de direito ao voto nas eleições gerais aos espanhóis, portugueses e a um amplo número de residentes, o qual tem passaportes europeus (bem como, cidadania britânica).

Outra questão a destacar é que Clegg foi o único dos três líderes a propor uma forma de anistia ao quase um milhão de imigrantes irregulares do Reino Unido. Esta só se daria a quem vivesse mais de uma década e que tivesse um bom domínio do idioma inglês e uma ficha criminosa limpa, algo que só beneficiaria a uma minoria dos irregulares.

Não obstante, estas propostas fizeram com que Clegg ganhasse muitos adeptos nas minorias e os liberais se tornaram o único partido que nestas eleições apresentou candidatos iberoamericanos.

*  *  *

Brown 'Com-Dem-nado'

Por Isaac Bigio*

De Londres

Para Via Fanzine

Tradução: Pepe Chaves

No  Reino Unido usa-se a sílaba “Cons” para se referir aos conservadores e “Dems” para se referir aos democratas liberais. Hoje, pela primeira vez na história, estes dois partidos cujos antepassados têm mais de três séculos de existência, firmaram uma coalizão para jogar os “labs” (laboristas ou trabalhistas) do governo nacional.

Tal como o advertia a manchete do principal diário pró-laborista (‘Mirror’), o trabalhista Gordon Brown podia terminar com-dem-nado. Buscando por todos os meios se manter no cargo, Brown anunciou que ele permaneceria como premiê somente por mais três a quatro meses e que seu governo baixaria uma nova lei para reformular o sistema eleitoral.

No entanto, apesar de todas as suas tentativas para se perpetuar no poder, ele acaba de deixar as chaves do número 10 da Downing Street (residência do premiê de sua majestade) ao seu oponente David Cameron.

Durante as eleições os conservadores diziam que quem votasse aos liberal-democratas estaria ajudando para que os trabalhistas mantivessem alguém que lhes permitiria continuar retendo o poder. No entanto, os fatos ocorreram em ordem inversa. São os liberais que têm levado os conservadores a encabeçar seu primeiro governo sem maioria parlamentar, após várias gerações.

A partir do ponto de vista inerente às distâncias que os liberal-democratas mantêm em relação aos conservadores, sabe-se que estas são maiores em relação aos trabalhistas. Enquanto os "lib-dems" são favoráveis à União Europeia (UE), à anistia aos imigrantes irregulares e a eliminar os caros submarinos nucleares, os "cons" querem conceder peso à UE, pedem mais dureza frente aos imigrantes e propõem mais gastos com a defesa.

No entanto, os “lib-dems” só tomaram os coquetéis com os “labs” ara que os “cons” abram mais concessões. Graças aos coquetéis, um outro Nick Clegg se converteu no primeiro vice-premiê liberal-democrata da história. Os “lib-dems” têm conseguido se impor ao partido que mais se opôs à reforma eleitoral, fazendo com que o mesmo aceite se submeter a um referendo, uma leve reforma do sistema eleitoral uninominal.Assim, seria permitido a cada eleitor indicar as suas preferências e o vencedor se sagraria com mais de 50% da votação.

Os “lib-dems” não decidiram formar uma “aliança progressista” com os “labs” por várias razões. Primeiro, porque seria vista como uma coalizão que joga entre os dois derrotados, colocando pela segunda vez consecutiva, um premiê que não liderou uma vitória eleitoral (Brown e seu sucessor). Segundo, porque isso poderia agigantar os conservadores na oposição e agora, decerto, deverão “suavizar”. Terceiro, porque ideologicamente falando, Clegg está na direita de seu partido - e sua esposa Miriam é filha de um senador da direita espanhola.

 
     
 

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